OSVANDRÉ LECH é PASSO-FUNDENSE DO BOQUEIRÃO, ORTOPEDISTA ESPECIALIZADO EM MEMBROS SUPERIORES, JÁ PRESIDIU QUATRO SOCIEDADES MÉDICAS no país e exterior, escreveu diversos livros, capítulos, artigos científicos, e viajou extensivamente, tendo já palestrado nos cinco continentes. Ele conhece cidades de todos os portes, nos mais diferentes pontos do planeta. Em novembro próximo, por exemplo, integrará uma equipe coordenada pelo Rotary Internacional e fará trabalhos humanitários no pequeno hospital de Nalta, no sul de Bangladesh. Com uma perspectiva globalizada, Osvandré Lech respondeu a três perguntas:
1) Como Passo Fundo é visto de fora - "Não se pode ter ufanismo exagerado quando se pretende fazer uma avaliação da própria cidade. Ela procura ainda, depois de 147 anos, uma identidade própria. Não tem uma colonização única, não se dedica a uma atividade pela qual seja reconhecida, não produziu "heróis" com representatividade nacional ou internacional. A expressão "terra de passagem" é, de fato, apropriada. A nossa cidade não possui a "marca" de Caxias do Sul, de Bento Gonçalves, de Gramado, de Novo hamburgo, de Blumenau, para citar algumas. Recentemente o Festival do Folclore e a Jornada de Literatura estão emprestando à cidade ares de pólo de eventos culturais. mas para que isto se torne realidade, muito ainda terá que acontecer na área de hotelaria, marketing, diminuição da violência urbana, educação popular para tratar bem o "turista cultural", centro de eventos etc. O Portal das Linguagens é uma destas chaves para o sucesso. A captação de recursos para este investimento está sendo condu- zida pela Tânia Rosing e sua equipe quase que a distância, já que encontra resposta muito modesta na economia ativa da cidade. O mesmo aconteceu com a remodelação da Academia de Letras, a construção do Ginásio Poliesportivo, e a transformação da Roselândia em local de excelência turística. Em outras palavras, temos projetos e ideias, mas, de certa forma, não regaçamos as nossas próprias mangas para concluir tais proje- tos. mencionando ainda outros entraves para o nosso progresso, cito a total falta de representatividade parlamentar, analfabetismo, falta de treinamento de mão-de-obra, baixo crescimento do PIB quando comparado a cidades vizinhas.
2) Como eu vejo a cidade - Mesmo com inúmeros convites para trabalhar e pesquisar em centros médicos importantes, optei por Passo Fundo, minha cidade natal, para criar a minha família e auxiliar no progresso dela. vejo de forma muito otimista a nossa cidade. A UPF é um exemplo administrativo a ser seguido, sendo uma das nossas "multinacionais". Empresas de grande porte como Grazziotin e Semeato são outras marcas importantes para a cidade. Porém, o que poderá realmente alavancar a nossa cidade somos nós, cidadãos comuns, funcionários públicos, proprietários de pequenos negócios, professores etc. A excelência começa em cada um de nós mesmos. A tradução do esforço coletivo faz a diferença, com certeza. Isto parece ser um raciocínio simplista e distante da realidade. Mas é exatamente assim que funciona. Os cidadãos norte-americanos, australianos e japoneses levantam todo o dia com a ideia de "gerar progresso e riqueza para mim e para o meu país". Pena que nesta América Cristã isto seja quase um pecado...
3) Como Passo Fundo pode se tornar um grande polo médico - a nossa cidade já é um grande polo médico. é menor, na verdade, do que pensamos ser. A ex- celência também não é completa. Uma autoanálise honesta mostraria o quanto temos ainda para aprender e melhorar. Sem dúvida que a criação do curso de Medicina em 1970 e a contínua capacitação da rede hospitalar ajudaram muito a criar a marca de "centro médico". Mas isto ocorreu em outras cidades universitárias também. Por que Passo Fundo se destacou neste cenário, então? Porque o grupo de profissionais locais esforçou-se mais. Foi buscar formação de primeiríssima qualidade por custos próprios. hoje a cidade já exporta esta excelência em muitas áreas. O que eu quero dizer é que não se pode valorizar o nosso centro médico pela máquina supermoderna que foi comprada. Por trás dela existe um profissional altamente capacitado que a utiliza. Isto, de fato, faz a diferença. E contribui para o progresso da nossa cidade e região. (Jornal O Nacional, Ago. 2004)