Se montar um consultório médico já não é nada fácil, mantê-lo exige ainda mais trabalho. No momento em que convênios passaram a dominar a medicina, os clientes particulares se tornaram cada vez mais raros. E como fazer para preservar esses poucos pacientes? A resposta não é simples, mas o ortopedista Osvandré Lech, de Passo fundo, no Rio Grande do Sul, dá algumas dicas que podem auxiliar os médicos, não só quanto a essa questão, mas também no próprio gerenciamento do seu negócio.
Com 13 anos de carreira científica, o médico traz no currículum 3 fellowships realizados nos EUA: um em ortopedia, outro em mão e microcirurgia, e o terceiro em ombro e cotovelo. Autor de vários livros e artigos científicos publicados no Brasil e Exterior, dentre eles "Fundamentos em Cirurgia do Ombro" , o ortopedista divide sua semana de trabalho entre Passo Fundo e Porto Alegre. Antes de expressar sua opinião como manter a clinica particular, lembra um dogma da psicologia que ensina que as idéias de como agir devem ser autoconstruções feitas e apartir das próprias experiência.
Um primeiro aspecto que os médicos não podem menosprezar diz respeito a inteligência do paciente privado , ou seja , o cliente percebe que esta sendo enganado, como por exemplo, em casos de cobrança excessiva, tratamento desnecessário ou a própria insegurança do médico. Para aqueles que estão começando, o início da carreira deve ser suave, quase imperceptível, já que os colegas estabelecidos não querem "perder o mercado". Mobília nova e tecnologia de última geração não passam de pura enrolação. O paciente que ver resultados e, para isso, só há um caminho: estudar todos os dias, ir a alguns congressos e se reciclar em bons centros médicos, pelo menos a cada dois anos - orienta. Da boa aparência á educação, o comportamento pessoal do médico também é fundamental na relação médico-paciente. De acordo com o Dr. Osvandré Lech, os clientes querem ver no médico a figura da pessoa feliz e capaz de resolver o seu problema.
Availabitity, amability, ability, que quer dizer disponibilidade, amabilidade e habilidade, são palavras de ouro que aprendi com o cirurgião de mão americano Harold Kleinert, assim que inicie meus estudos nos Estados Unidos, em 1982. A boa apresentação pessoal, as boas maneiras e a comunicabilidade interpessoal são requisitos necessários para o sucesso em qualquer profissão. Dentro do campo da ortopedia, o médico lembra que aquele profissional amplo, geral e irrestrito acabou e hoje, com a velocidade do desenvolvimento tecnológico e o volume de informações existentes na medicina, fica impossível saber de tudo que acontece em todas as áreas. Por essa razão, enfatiza que os casos que não forem do Domínio do médico devem ser encaminhados aos respectivos colegas.
Dessa forma, a pessoa também poderá exigir dos outros os casos referentes à sua especialidade - defende.
Se os seguros de saúde são na atualidade uma das maiores queixas da classe médica, em Passo Fundo, o Dr. Osvandré Lech relata que todos os ortopedistas se reuniram em torno da Coopertrauma e, a partir da máxima de que a união faz a força, estão rediscutindo os valores das tabelas com os convênios. Na opinião do médico, é um absurdo que os preços das consultas sejam impostos pelas seguradoras e fiquem desatualizados sem nenhuma discussão.
Eu procuro não manter convênio com a maioria das empresas de medicina de grupo. A livre negociação de honorários deve ser mantida com o paciente e cabe a ele buscar junto ao plano de saúde o ressarcimento do que pagou. É impressionante a fragilidade das nossas relações; somos autônomos, mas nos obrigam a atender valores impostos. Além disso, o SUS, volta e meia, resolve cortar 25% da fatura e não dá nenhuma explicação, sem contar que os convênios atrasam os pagamentos e tudo fica por isso mesmo. Parece que, depois de mais de cem anos de abolição, a escravatura voltou - critica o ortopedista.(Business - Ano 3. Nº 5. Agosto, 1997)