Hipócrates de constitui até hoje na incorporação do exemplo de dignidade à arte de curar. Ético, pensador e dedicado totalmente à sua missão, Hipócrates tem sido reverenciado através dos tempos dentro e fora da Medicina. ele pertence aquele grupo de médicos que pensam que o paciente vem em primeiro lugar, acima e antes de tudo.
Gilmar Carteri é um clinico-geral que trabalha em Pelotas. Recebeu vários tiros no saguão do Hospital Cruz de Prata porque decidiu defender uma mulher que estava sendo vítima de dois assaltantes que desejavam arrancar-lhe a bolsa. Sem pensar nas possíveis conseqüências, atendendo apenas ao mandamento hipocrático - o ser humano indefeso ou doente em primeiro lugar - o colega Carteri lançou-se em defesa da vítima. Em defesa de toda a sociedade que assiste perplexa ao aumento da violência e criminalidade por todos os lados. Carteri agiu de forma diferente aos quatro pacientes que aguardavam atendimento no saguão. Eles sumiram à primeira oportunidade.
É muito simples estabelecer uma comparação entre Hipócrates e Gilmar Carteri. Afastados por milênios, eles pensam de forma idêntica. A filosofia médica no seus estágio mais puro e inicial.
As acusações contidas nos processos por erro médico insistem em desmistificar esta nossa vocação. Lá somos caricatourados como elementos de menor significado possível, agentes personificados da incompetência, imperícia, negligência e imprudência. Numa mistura de interesses escusos de quem não tem nada a perder, já que a maioria destes processos correm por conta da assistência jurídica gratuita, e de raiva por não ter obtido a cura exatamente como gostaria, um número cada vez maior de pessoas vêem na difícil na difícil arte de curar uma possibilidade de ganho pecuniário. Dinheiro fácil, em outras palavras.
O exemplo do Gilmar Carteri está aí simbolizar o contrário. A antítese do erro médico. Ele não está só. (Jornal da AMRIGS/Folha da Ortopedia - MAR2001 Jornal da SBOT - ABR2001)