A evolução tecnológica caminha em ritmo (quase) impossível de acompanhar. Quanto ao conceitos ortopédicos e a maneira mais sensata de tratar não necessitariam desta mesma velocidade, afinal, não se inventa algo novo todas as manhãs.
Em 1980, quando iniciei a ortopedia, soube que a biblioteca privada mais bem organizada do país era do prof. Marino Lazareschi, então titular da Escola Paulista de Medicina. na gigantesca biblioteca da sua residência, todas as noites, ele 'devorava" revistas e livros, dividia-os e guardava-os por assuntos. Um modelo para os anos 60 e 70. Daí veio, a era da consulta BIREME, já que não se conseguia mais acumular "tudo". Depois, nos deparamos com a era eletrônica, onde literalmente tudo se obtém on-line, na nossa própria biblioteca.
Em 1980, a melhor apresentação visual possível era realizada através de Kodalit, totalmente artesanal. Então, surgiu a geração dos slides feitos por computador ultrapassado, rapidamente pelo CD-ROM, com total animação gráfica. Na reunião da SBOT-RJ sobre artroplastias realizada semanas atrás, cerca de 70% das apresentações nacionais e estrangeiras já utilizavam este sistema.
Em 1980, uma nova cirurgia era aprendida pela ortopedista (interessado) através de viagem e estadia num centro de referência daquela patologia. Daí veio a geração "fitas de vídeo" e hoje estamos na geração circuitos fechados de TV, que podem mostrar simultaneamente para uma platéia de qualquer número uma cirurgia feita daqui ou a 1.500km de distância. Em 1980, o método de fixação externa era apenas uma curirosidade no país (o primeiro artigo publicado na RBO veio de Passo Fundo, pelo Paulo Bertol e José Gouveia). Daí houve, uma incrível evolução em tipos de material e opções de montagem; então a ortopedia adotou o sistema llizarov e os novos fixadores "inteligentes", que permitem sucesso em muitos "casos perdidos". São apenas 20 anos, e esta minha geração já ouviu tantas mudanças, que as vezes é difícil saber quando estamos atualizados ou quando já estamos fossilizados. Para aqueles "antas cibernéticos" (expressão do cantor Lobão), esta rápida evolução é ainda mais drástica e incômoda.
Nestes momentos vale lembrar que a maioria dos tratamentos em ortopedia foi estabelecido há décadas e que os princípios e fundamentos foram definidos há séculos. Os grandes nomes nacionais e internacionais que estabeleceram os pilares da ortopedia brasileira pertencem a outro tempo, já passado. Os atuais nomes serão lembrados pelas futuras gerações, nunca pelas atuais.
Nestes mesmos momentos vele lembrar o estimado gaúcho Mário Rigatto - "Na hora da doença eu quero um médico, não um cientista". O professor sabia das coisas!. A ortopedia, assim como a medicina, é uma arte inexata, que aceita várias opções como forma correta de tratamento. Basta valer o bom senso, como "anta cibernético" assumido, lembro-me seguidamente da melhor frase que aprendi em Louisville, EUA, do Dr. Harol Kleinert: "O sucesso na profissão do médico depende de availability, amability e ability (disponibilidade, cortesia e habilidade. Nesta ordem". Professor sabe das coisas...(Revista da SOT, set. 2001)