LA - Defina o profissional que você é?
Osvandré Lech - Nas respostas acima eu fui suficientemente honesto para ser melhor conhecido. Gostaria de ser lembrado como um indivíduo idealizador que não vê dificuldades, mas desafios pela frente e um médico com a habilidade manual a serviço da cirurgia reabilitadora e o cérebro a serviço da ciência.
LA - Enquanto um profissional de saúde, como você vê e entende o terapeuta ocupacional?
Osvandré Lech - Tenho tido contato limitado com os profissionais da T.O. Sei que se trata de um amplo campo de ação na área da reabilitação, mas acho que existe uma sobreposição com a fisioterapia que está atrapalhando as relações de trabalho da T.O. Isto precisa ser resolvido logo.
LA - Na sua visão, como está o mercado de trabalho em sua área?
Osvandré Lech - A área da saúde, como um todo, verga-se aos caprichos da política de arrocho salarial que todos conhecemos. A criação desenfreada de novos cursos superiores trará o que existe na Europa há muito tempo: psicólogas (empregadas) domésticas, advogados verdureiros, médicos taxistas etc. uma estreitíssima fatia de profissionais terá o êxito econômico idealizado. Esta deformação da estratificação social é muito dura para todos nós.
LA - Que linha metodológica você adota em sua abordagem terapêutica? (exemplo em Terapia Ocupacional: Humanista, Positivista, Materialista - Histórico Cognitivo - Comportamental...).
Osvandré Lech - Não sei precisar o que eu mesmo uso, mas a positivista me parece os mais apropriados. Eu não "vendo" uma cirurgia, uma reparação. Na verdade eu "vendo" saúde, harmonia, volta ao lazer e ao prazer de realizar atividades que agora não estão possibilitadas.
LA - Descreva, de forma resumida, a sua metodologia de trabalho.
Osvandré Lech - Bastante paranoico para quem conta com apenas 24hs, como todo o mundo. Eu dirijo 3 entidades (uma em Passo Fundo, uma em POA e uma em SP). A burocracia, portanto, é insana. Atendo pacientes e opero com o maior zelo em Passo Fundo e POA. Desenvolvo mais de 4 pesquisas científicas simultaneamente. Atualmente estou iniciando dois novos livros. Ah, tenho tempo suficiente para me manter informado sobre os principais avanços da minha área, pois vou a mais de um congresso médico por mês.
LA - Como você vê a questão da reabilitação e da reinserção de indivíduos "deficientes" na nossa sociedade? Tem sugestões?
Osvandré Lech - O tema é muito abrangente. Como linha geral, quanto maior é o respeito ao cidadão, maior é a aceitação e a inserção da PD (pessoas deficientes) na sociedade. Ao olhar ao redor, podemos perceber o motivo pelo qual as PD simplesmente inexistem aos nossos olhos - no Brasil, a cidadania é a manhã seguinte. E estamos apenas no meio da noite. Construir vias de acesso para cadeira de rodas parece um deboche para quem conhece as dimensões do problema no Brasil. Sim, a sugestão é FAZER ALGO, já que tem quase nada feito.
LA - Que significado tem para você, enquanto profissional da área da saúde, o lidar direta ou indiretamente com a vida das pessoas?
Osvandré Lech - Brincar de Deus é sempre muito divertido (há, há, há). Falando sério agora, a ortopedia e traumatologia quase não lida "com vidas" das pessoas, pois quando o caso exige cuidados intensivos e risco de vida a gente corre à UTIs, onde os colegas especializados neste assunto têm mais condições de salvar a vida em risco. Quando se fala em vida emocional, daí sim, todos os dias convivemos com pessoas com diversos desvios de personalidade, diversos tipos de ansiedade, dependências, medos etc. É necessário boa dose de entendimento da mecânica emocional para ajudar os pacientes com esta coletânea de carências e outros desvios emocionais. Como disse Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal" - isto inclui o ortopedista, naturalmente!
LA - Descreva, de forma resumida, qual a importância de sua profissão em sua vida?
Osvandré Lech - Temo responder que atualmente dou a ela uma importância bem maior do que ela, de fato, mereceria. A profissão me "roubou" oportunidades de ser um melhor marido, pai, amigo até. Como não existem limites definidos de onde se deve parar, o sujeito muito motivado como eu acaba dando uma importância surpreendentemente grande à profissão, o que não é um bom balanço.
LA - Por que você escolheu está profissão?
Osvandré Lech - Honestamente, foi bem por acaso. A Faculdade de Medicina estava iniciando as atividades em Passo Fundo e este era o vestibular "mais difícil". Como geralmente os adolescentes querem "aparecer", acho que este foi o meu caso. Além disso, o meu pai sempre trabalhou na área da saúde (vendedor de remédios) e eu fiquei mais ou menos familiarizado com o meio e a profissão.
LA - Como você entende ou conceitua sua profissão?
Osvandré Lech - Ela possui grande importância social, já que reabilita indivíduos traumatizados ou portadores de deficiências físicas do sistema osteo-articular para que obtenham um melhor desempenho na sociedade.
Obrigado pela oportunidade! (Concedida a Luciana Lunardi de Almeida, estudante de Terapia Ocupacional no IPA - Porto Alegre, jul. 2001)