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O ESTUDANTE DE MEDICINA E A VIDA UNIVERSITÁRIA

O GRANDE NÚMERO DE INDIVÍDUOS QUE CONCLUEM O CURSO BÁSICO DE II GRAU E SE DECIDE PELA CARREIRA UNIVERSITÁRIA, PERTENCE A FAIXA ETÁRIA compreendida entre 17-19 anos; época da vida em que as descobertas pessoais estão ainda acontecendo; ideias revolucionárias, contestatórias, reformistas aliadas a um sentimento intenso de liberdade própria e de posicionamento social e econômico povoam os pensamentos desta geração.

Enquadrado neste contexto, o indivíduo opta pelo curso de medicina; trava-se então uma busca incansável de conhecimentos; as madrugadas, os fins-de-semana, os horários de lazer até, todos os momentos destinam-se ao preparo para a competição de pouquíssimos vencedores. O epicentro desta busca toda é a provação no vestibular; um sonho almejado por tantos, afinal!

Vencida a fase eufórica, decide dedicar-se ao estudo acadêmico; pensa ele que conseguirá quebrar um "sistema". "Farei da medicina um ideal e não um meio" é frase corrente na boca dos "BIXOS" da Faculdade.

Inicia-se um ciclo básico, Anatomia, Fisiologia, Parasitologia, entre outras, formam um rol de disciplinas que exigem muito na teoria e prática, embora enfadonha, esta é a fase fundamental no preparo do "futuro doutor". Nesta época o binômio válido é "acadêmico-livro" para "fechar o semestre com aprovação".

No 3º ano da Faculdade, vislumbra-se nova perspectiva: o contato diário com as enfermeiras, a carta dos sinais e sintomas dos pacientes para enquadrá-los num único tipo de doença, o convívio com o paciente pobre, que mora na sujeira e alimenta-se de quase nada. O acadêmico começa a perceber os grandes desníveis dentro da medicina, de um lado, um avanço técnico e científico notável (medicina nuclear, tomografia computadorizada, pesquisas com radioisótopos etc.), de outro lado o sujeito doente, desnutrido, analfabeto, padecendo de males tão facilmente curáveis (tuberculose, esquitossomose, verminose etc.). O binômio válido aí é "acadêmico-paciente", aceito por alguns, e visitado por outros acadêmicos.

Nos anos seguintes de faculdade, há o aprofundamento deste conhecimento; as cadeiras clínicas (gastroenterologia, pediatria etc.) e cirúrgicas (cirurgia torácica, cirurgia vascular etc.) dão o apronto teórico final. Nesta época, o acadêmico decide-se por determinada especialidade e passa então a dedicar-lhe maior tempo: mero engano, pois não se concebe um "doente do olho" ou "doente do rim", mas existe, antes disso, um "doente por inteiro".

A última fase da vida universitária é o estágio (6º ano), em que as opções são várias, época de novos conflitos e dúvidas; a difícil perspectiva do mercado de trabalho a que estará jogando dentro em breve; os problemas de se conseguir uma Residência Médica, com vagas cada vez mais reduzidas, as grandes dúvidas no confronto direto com o paciente ("será que aprendi tudo o que devia? - será este o medicamento indicado"?). Todas estas incertezas, aliadas a uma opressão social sobre a figura do médico, pois "médico bom é aquele que ostenta status econômico", levam o acadêmico a examinar sua vocação e seus dons; é exatamente nesta situação que me encontro, juntamente com vários colegas.

Feliz e realizado é aquele que conclui o curso de medicina e pode dizer para si mesmo: "farei da medicina um ideal e não um meio..."

Finalmente tenho a dizer que se tivesse que reiniciar hoje a minha vida universitária, gostaria de reconduzi-la exatamente com fiz até então, pois me identifiquei perfeitamente com ela. (Texto escrito pelo professor Osvandré Lech em junho de 1979 e transcrito no jornal "UNIVERSITÁRIO" para seus alunos vestibulandos do GAMA VESTIBULARES e do CURSO UNIVERSITÁRIO)




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