Abaixo estão as perguntas e respostas de uma entrevista concedida por OSVANDRÉ LECH a Revista Sala de Espera. Confira!
OL - Sou médico ortopedista especializado em patologias do membro superior. Nunca exerci a profissão fora deste segmento do sistema músculo-esquelético e pertenço à primeira geração dos chamados "especialistas", estabelecida no início dos anos 80.
OL - A Residência foi feita em Passo Fundo, no IOT e no Hospital São Vicente. Daí passei 2 anos aprendendo cirurgia da mão com Harold Kleinert e equipe, em Louisville, Kentucky, EUA e mais um ano aprendendo cirurgia do ombro com Charles Neer, na Columbia University, Nova Iorque, EUA. Depois disso nunca mais deixei de visitar os bons centros médicos nos 5 continentes.
OL - Pois é, aquilo que seria uma "experiência passageira" passou a fazer parte da minha rotina semanal; na segunda e terça em Porto Alegre, e daí em Passo Fundo. Lá existe um centro médico muito energético e a Residência Médica do IOT é a minha "menina dos olhos"; aqui existe uma grande demanda por profissionais bem treinados, além de toda a máquina administrativa da medicina.
Penso que esta atividade mista somente foi possível devido a vários fatores:
1) atender somente pacientes eletivos nos dois locais;
2) possuir Serviços organizados nas duas cidades, onde existe divisão de responsabilidades;
3) senso de organização e ""foco" bem desenvolvido;
4) suporte familiar, pois a Marilise e as crianças compreendem bem o cenário e participam dele.
OL - Já fui presidente de 4 entidades médicas: a gaúcha de ortopedia, as brasileiras de ombro/cotovelo e cirurgia da mão, e a sul-americana de ombro/cotovelo; atualmente sou 2º secretário da SBOT, que é a nossa organização maior.
Com o fantástico desenvolvimento da comunicação digital nos últimos anos (o fax está aposentado!), a liderança já não precisa ser exercida "de corpo presente", mas através de idéias e concordância entre as partes.
OL - Em 1986 a LER/DORT/AMERT não tinha denominação e nem era conhecida pelo público médico e leigo; eu fui convidado por um grupo "meio esquerdista" do Sindicato dos Digitadores do RS a falar sobre o assunto em Brasília. Daí surgiu a "tenossinovite" com a legislação inicial, que evoluiu para a atual. O assunto me empolgou tanto, que escrevi 3 livros sobre ele. Em 1988 foi a vez de formar o Comitê de Ombro e Cotovelo da SBOT, junto com outros 23 colegas, alguns gaúchos, como o Wageck, o Rockett, o Schmiedt, e o David. Durante a minha gestão nesta Sociedade, em 1993-94, foi fundada a Sul-Americana, com a participação de todos os países.
A cirurgia do ombro é hoje uma especialidade amplamente reconhecida e prestigiada. O difícil foi no começo...
Um assunto que tem me interessado muito ultimamente é a história das instituições; como ela é bonita e épica, pois os colegas que nos antecederam realizaram grandes conquistas, quase sempre esquecida já na próxima geração. Já fiz dois resgates da história de duas instituições: a gaúcha de ortopedia e a brasileira de ombro.
OL - Na adolescência eu preferia escrever uma longa carta ao dar um simples telefonema; também sempre me encantou a história dos grandes nomes da medicina e ciência em geral, que se tornaram imortais porque escreveram os seus achados e teorias. Na verdade, a humanidade somente passou a prosperar quando se fizeram as primeiras inscrições nas paredes das cavernas; passados alguns milênios, a humanidade se comporta de forma idêntica, com a diferença de que em 2001 foram 2 bilhões de páginas escritas...
O "Fundamentos em Cirurgia do Ombro", por exemplo, foi escrito à mão, "em cima do joelho", durante as viagens de ônibus entre as duas cidades.
OL- Escrevi cerca de 80 artigos em revistas nacionais e internacionais, e 28 livros e capítulos de livros. Por dois anos consecutivos, o livro de ortopedia mais vendido no pais foi o "Exame Físico em Ortopedia", que escrevi em co-autoria com o Tarcísio E. Barros Fº, da FMUSP. Este ano está muito ativo, pois publiquei em janeiro o "Fraturas", em co-autoria com Carlos Schwartsmann e Marco Teloken, e em abril o "Deformidades Congênitas do Membro Superior", onde sou o editor-convidado, na série "Clínica Ortopédica", dos mineiros Pardini e José Márcio. Em novembro passado foi publicada a 3ª edição do "Sizínio-Xavier", que é o livro-texto de referência nacional em ortopedia, onde tenho 2 capítulos.
OL - De forma ainda tímida, publicarei em maio o meu terceiro livro, o "Veia de Campeão", que é um resgate histórico dos principais atletas de Passo Fundo em todos os tempos. Em 2001 foi a vez de "Citações, Provérbios e Aforismos", uma coletânea de 3.000 frases inteligentes (somente UMA minha - há, há, há).
Em 1999 homenageie novamente Passo Fundo, com um resgate fotográfico da primeira metade do século passado.
OL - Como Presidente da Comissão de Educação Continuada da SBOT, estou muito empenhado na produção de 3 LIVROS DE CONDUTAS E 1 CD-ROM DA SBOT, que é um projeto nacional, que conta com a participação de 150 colegas, alguns deles gaúchos. O diferencial é que este projeto iniciou em março e terminará em outubro - uma verdadeira maratona. Tenho pronto um livro que reúne todos os editoriais que escrevi nas diferentes sociedades médicas e outros escritos; é um livro pessoal que mostra muito do meu engajamento nas causas que abracei. Por ser uma peça auto-biográfica, acho muito precoce terminá-lo aos 47 anos; por isso ele ficará no prelo por um bom tempo.
Já estou reunindo material e colaboradores para a 2ª edição do "Fundamentos em Cirurgia do Ombro", o primeiro livro da especialidade no país, publicado em 1994.
OL - Pôr não dar um retorno financeiro proporcional ao esforço dispendido, vejo esta atividade como um "hobby" dos mais prazerosos, permitindo-se comparar o nosso cérebro ao guarda-chuva, que só funciona bem enquando aberto!