A revista AMRIGS, publicação oficial da Associação Médica do Rio Grande do Sul, é a principal porta-voz da qualidade médica desenvolvida no Estado. Nela, através de várias seções, são relatadas as experiências e conclusões científicas individuais e de serviços médicos.
Anos após, com diferentes Conselhos Editoriais, a Revista da AMRIGS tem buscado o aprimoramento dentro desta difícil área de publicação médica. O fluxograma dos artigos submetidos à publicação, que se insere junto às instruções aos autores, é um dos exemplos de seriedade e busca constante de perfeição. Desnecessário dizer, a Revista da AMRIGS é um modelo a ser seguido por outras Associações Médicas do Brasil. um aspecto, no entanto, me chama a atenção: o número excessivo de autores em alguns artigos originais e de revisão. São comuns os artigos em que constam 7,8 e até 9 autores. Serão todos estes autores absolutamente essenciais para o desenvolvimento e conclusão do artigo? Terá havido uma participação efetiva de todos os autores em todas as etapas do artigo? Qual o critério utilizado pelo mentor do artigo na dinâmica do trabalho? Cada um dos autores conheceria os dados citados no artigo que ele próprio assina?
Este não é um fenômeno local. Burman (1) avaliou o número de autores/artigos do The New England Journal: em 1930 era de 1,2, em 1969 era de 3,8 e em 1979 era de 5,2. Achados similares foram encontrados no Annals of internal Medicine. O Journal of Bone ans Joint Surgery, edição americana de 1989, apresenta números inflacionários de 2 artigos com 11 autores cada.
De acordo com Relman (2), o autor é o indivíduo que participou ativamente da concepção, desenvolviemnto, análise e interpretação dos resultados de um trabalho; ele cita que o uso da co-autoria como forma de pagamento à assistência técnica na coleta de dados, bem como a inclusão do chefe do serviço em todos os trabalhos, independentemente da sua participação, é uma grave violação do princípio ético.
Hewitt (3) afirma que o leitor de um artigo assinado por 2 ou mais autores, tem o direito de presumir que cada autor., individualmente, tem conhecimento do assunto, contribuiu igualmente na investigação e é responsável pela interpretação e descrição dos achados.
Huth (4) sugeriu as seguintes linhas gerais para um autor: 1) ter participado do planejamento inicial do estudo; 2) ter realizado observações e obtido dados através de interpretação própria; 4) ter discutido e concordado com todos os dados, antes que o artigo seja enviado para publicação. Baseados na observação do que o envolvimento dos autores com o trabalho científico não aumenta proporcionalmente com o número de participantes, os conselhos editoriais de alguns periódicos alteraram as instruções ao autores. O Journal of Bone and Joit Sugery, edição inglesa e americana, recomenda um número de até 6 autores por artigo. A edição americana vai além: Cowell (5) recomenda que, em caso de mais de 6 autores, seja enviada correspondência relatando o tipo de trabalho que cada autor realizou; se não for relevante, o nome do(s) autor(es) deve ser creditado na nota ao pé da página. Além disso, é solicitada aos autores uma carta (letter of transmittal) confirmando que leram e aprovaram o manuscrito final.
O assunto é, sem dúvida, polemico. Qual o número ideal de autores? Qual a opinião do Conselho Editorial da Revista da AMRIGS? Qualquer que seja a resposta, o objetivo deste comentário é aumentar cada vez mais a credibilidade da nossa revista e influenciar no aprimoramento das técnicas de confecção de um artigo científico.
Afinal, através da qualidade da documentação científica, pode-se avaliar a qualidade da medicina de um determinado local. Façamo-la, pois, da melhor maneira possível. (Rev AMRIGS, Porto Alegre, 36 (2): 125-126, abr/mai/jun, 1992).