Uma senhora teve que ser operada porque tinha Formigamento insuportável durante o ato sexual e um jovem de 30 anos, que luxou o ombro enquanto fazia sexo, também precisou de uma cirurgia para resolver definitivamente o problema. Os dois casos, atendidos pelo mesmo médico, o ortopedista gaúcho Osvandré Lech, ilustram um tema objeto de trabalhos científicos no exterior, mas ainda inéditos no Brasil: as lesões ortopédicas que ocorrem durante o ato sexual.
Osvandré, que fará conferências justamente sobre cirurgia de mão e de ombro durante o 42º Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia, que começa neste sábado, dia 13, em Brasília, explica que em outros países já existe literatura científica sobre o problema, como um relato sobre um paciente que, ao transar fez movimento exagerado e sofreu luxação de prótese de quadril, isto é, o implante saiu de posição.
Trabalhos científicos de países do primeiro mundo são tão detalhistas, explica, que os estudos dão a freqüência da relação sexual, 112 por ano, os problemas mais comuns durante o ato, como: contratura lombar, entorses e abrasões no joelho, e torcicolo, pela ordem de freqüência.
"Os locais onde fazer sexo provoca problemas ortopédicos também são listados", diz Osvandré, sendo o mais "perigoso" o sofá, seguido pela escada, automóvel e chuveiro, e ele não perde a piada: "no Brasil deve ser pior, já que há mais carros compactos, menos confortáveis para o ato sexual que os carrões norte-americanos".
Para os ortopedistas, não há dúvida de que aqui ocorrem tanto ou mais problemas ortopédicos durante o ato sexual, mas a situação dos Prontos Socorros onde esses pacientes buscam ajuda não oferece privacidade alguma e dificilmente alguém explica em que condições se machucou.
"Muitos Pronto-Socorros brasileiros parecem hospitais de campanha", diz Osvandré e, ao ser atendida na frente de outros pacientes, "quando não mal atendida, a vítima assume posição vexatória se confessar como se machucou"; além disso, mesmo sofrendo dor durante o ato sexual, a lembrança que vai se fixar na mente do paciente é de prazer, gratificante, e não da dor que sentiu.
Ainda segundo o médico, apenas em sexo heterodoxo há uma busca consciente de dor e prazer simultâneos. Ele cita a morte, há 18 meses, de um cineasta norte-americano que se auto-asfixiou ou foi asfixiado num hotel, enquanto buscava a "sensação de asfixia" para incentivar a erecção e o orgasmo, e o célebre filme japonês "Império dos Sentidos", no qual a protagonista estrangula o amante exausto, na tentativa de que ele tenha nova erecção e acaba provocando a morte. "São casos raros, sempre ligados ao sado-masoquismo", conclui.
A conclusão dos ortopedistas é que os problemas durante o sexo não são diversos dos que ocorrem no dia a dia, quando um gesto brusco, uma posição forçada ou o ato de exigir demais de um músculo causam luxação articular, "pinçamento" de um nervo ou dor muscular. No caso da senhora que operou, Osvandré explica que ela tinha a síndrome do túnel do carpo, isto é, com a mão apoiada e o punho estendido, o nervo mediano era comprimido, e isso poderia ocorrer fazendo sexo ou em outra atividade. Nesse caso, a "descompressão cirúrgica do retináculo dos flexores" tornou-se necessária e resolveu o problema.
No caso do jovem com o problema no ombro, o caso é mais sintomático, diz o médico, pois a luxação ocorria frequentemente durante o trabalho ou praticando esporte e não incomodava muito. Ao ser acometido durante o sexo, porém, o paciente ficou extremamente constrangido e buscou ajuda do ortopedista, insistindo na urgência em ser operado, "não pela gravidade do problema, mas por causa da vergonha que passou".