O ortopedista Osvandré Lech, gaúcho de Passo Fundo, 54 anos, assume hoje (dia 13) a presidência da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, que congrega 10 mil especialistas brasileiros, linha de frente no atendimento às vítimas de acidentes e violência com politraumatismo, ocorrências das quais o Brasil tem uma das mais altas taxas do mundo.
Osvandré toma posse às 18 horas, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, durante o 42º Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia, com a promessa de defender o médico contra "o crescente desrespeito a um dos valores do código de ética médica", a liberdade de escolha do tratamento.
Para o novo presidente dos ortopedistas, é alarmante o número de vezes em que um especialista decide adotar determinado procedimento como o implante de uma prótese para recuperar adequadamente seu paciente e tem o pedido negado, seja por normatizações cada vez mais restritas que impedem o médico de escolher o material que deseja usar, seja por motivos econômicos, pelos convênios de saúde.
"Nosso compromisso é com o paciente", insiste o ortopedista, e se o tratamento não produzir o resultado esperado, o responsável será o médico e não o SUS ou o convênio. Ele lembra que graças à pesquisa, brasileira inclusive, os recursos e as armas da Medicina para resolver os problemas ortopédicos crescem constantemente, "mas esse progresso tem custo, que por vezes quem paga o serviço não está disposto a bancar estes avanços, e cabe ao ortopedista realizar tratamentos "sub-ótimos", diz ele.
Além da valorização profissional, Osvandré, que sucede ao paulista Cláudio Santilli no cargo, pretende que sua gestão aumente a visibilidade das ações da SBOT perante os próprios ortopedistas e a população em geral. A especialidade evolui com tamanha rapidez e o especialista precisa se atualizar constantemente; isto é uma da principais funções da entidade com os cursos de educação continuada. Maior visibilidade do trabalho dos ortopedistas perante a sociedade, com a qual vai se aliar na prevenção dos problemas ortopédicos, pois vê tanto o uso de mochilas pesadas demais pelas crianças que vão à escola, passando pela falta de segurança no trânsito e chegando aos efeitos da violência, como "o problema prevenível que é mais caro para o País, pois resulta da falta de prevenção a legião de aleijados que não podem trabalhar e representam custo para a sociedade, além do problema social e do sofrimento que causa". "Existe muito para ser feito para que a nossa sociedade viva mais e melhor", comenta Osvandré.
A preocupação com o sofrimento do paciente é decorrência da formação humanista de Osvandré. Além de sua contribuição científica à Ortopedia, mais de 100 artigos em revistas especializadas, dos 60 livros didáticos que escreveu ou dos quais participou e das mil conferências nos cinco continentes, ele ainda esta semana está lançando mais um livro não médico, feito em co-autoria com sua mulher, a psicóloga e educadora Marilise Lech.
Dentro da linha humanista que defende a proximidade do médico enquanto pessoa do seu paciente, Osvandré é um dos cirurgiões da área que, mesmo após se tornar um "expert", faz questão de continuar a operar pelo SUS, atendendo a pacientes mais necessitados.
Especializado na Universidade de Columbia, em Nova York, e de Louisville, no Kentucky, dedica-se à cirurgia do ombro, da mão, e à micro-cirurgia. Fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Ombro, presidiu a Sociedade de Cirurgia da Mão, a Sociedade Gaúcha de Ortopedia e, na SBOT desde 1982, participou de várias Diretorias, organizou o congresso nacional de 2008, realizado no Rio Grande do Sul e há dois anos é vice-presidente da SBOT.
Ele se orgulha de ser médico de uma cidade do Interior e não de uma Capital a presidir a Sociedade de Ortopedia e diz que essa origem faz com que tenha uma visão muito clara das dificuldades do profissional. "O Brasil tem uma das Ortopedias mais versáteis e avançadas do mundo", garante, "mas muitas vezes a pressão econômica impede que o médico tenha acesso ao melhor equipamento, aos implantes mais avançados", o que levou ao axioma que se popularizou na profissão, "não se opera bem com garfo e faca", que ele repete sempre que se refere à necessidade de reequipar e reequipar bem os hospitais brasileiros.